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A água é grátis

Uma das coisas que eu acho mais legais por aqui é poder pedir água grátis nos bares e restaurantes: "Y un vasito de água, si puede ser"- qualquer pedido sempre vai acompanhado desta frase no final. Nem precisa dizer que é "água de grifo" (de torneira); eles sabem e te trazem a água bem fresquinha.

Sempre fui da opinião de que a água é um bem público, um recurso vital da natureza e que, tá, até podem cobrar por ela, mas pô, negar água é sacanagem, né? Este era um dos grandes temas das minhas longas conversas vagabundas com o meu amigo Lalau nas tardes de sol do JP, o bairro onde crescemos.

Aqui na Espanha os donos dos bares e restaurantes pensam assim. Quando a gente vai em mais pessoas pedimos até uma "jarra de água de grifo". É normal, ninguém faz cara feia e até trazem a jarra com gelinho dentro.

Isso sim, vale a pena avisar que a água de Madri é "uma das melhores do mundo" (por quê todo mundo fala que as suas coisas estão entre as "melhores do mundo"?), mas existem outras comunidades autônomas (estados) onde a água não é tão gostosa. Em Barcelona, por exemplo, tem muito cálcio e fica com um sabor meio salgado... mas é potável e a cultura do copinho grátis também predomina.

Já aconteceu até de eu nem estar no bar e entrar só pra pedir um copo d´água pro garçom. Pode parecer cara de pau, mas é algo normal... tá calor lá fora, você tá morrendo, a água é grátis... por quê não?

Sempre comento com os amigos-turistas que passam pra me visitar: não gastem dinheiro com água - como diz a publicidade do Canal Izabel II (empresa de abastecimento de água de Madrid - que por sinal, está sendo privadizada), a água é um bem de todos!


E para os que têm um bar aí no Brasil, ofereçam alguma coisa grátis para os seus clientes: água, azeitona ou batatinha. Aqui todo mundo faz isso e é algo bastante comum, que acaba estimulando que o pessoal consuma mais. Além disso, o pessoal vai sair do seu estabelecimento muito mais felizes!

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O taxista de Madri e seu presépio de natal

No táxi que me levava para a estação de trem de Atocha, o motorista me contava sobre o enorme 'Belén de Navidad' que ele monta todos os anos na sua casa em Madri.

- Mas o senhor continua usando o boi e a mula que o Papa disse pra tirar?
- Claro, minha filha... eu não sou 'creyente'.
- É só pela tradição então?
- Isso... O Natal é como um jogo, uma época pra gente brincar. Aliás, qualquer pessoa com o mínimo de instrução sabe que Deus não existe! Para mim, nem os padres nem os bispos acreditam em Deus. Eles são muito estudados e formados pra acreditarem nisso! São trabalhadores de uma empresa, simplesmente.
- Será? E por quê o senhor tem essa opinião?
- Simplesmente porque Deus não existe! - e uma encorpada gargalhada encheu o carro.

Ri com ele e lembrei de um texto que li na coluna da Eliane Brum, na Revista Época, que contava como ela tinha sido demonizada pelo taxista paulistano quando disse que era ateia (A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico).

Optei por escutá-lo falar e opinar sobre a importância do comércio natalino para o sistema capitalista no lugar de tentar contar para ele que eu sim acredito em Deus, que sou religiosa, mas que não gosto do Papa - nem do sistema.

Mas não deu tempo... a estação de Atocha era perto demais pra gente ficar amigo. Desci do táxi feliz; contente por saber que tem gente que pensa diferente e tem suficiente bom humor pra fazer a gente rir das divergências, ver que nas diferenças sempre existem similitudes e que delas, junto com as risadas, pode nascer a simpatia - um dos princípios da tolerância.

Fiquei feliz em conhecer o taxista que fala de religião e de educação, que é ateu e que foi gentil e risonho durante toda a viagem. Lembrei dos evangélicos e dos taxistas brasileiros....


*Belén de Navidad =  presépio

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Sorria (de verdade)! Você pode estar sendo filmado

Uma reclamação constante aqui em Madri é sobre a quantidade de câmeras de "segurança" que se multiplicam pelas ruas e demais espaços públicos da cidade.
Eu, particularmente, sou contra a presença delas e entendo que são uma invasão à nossa privacidade e ao nosso direito de ir e vir no anonimato (este grande prazer cada vez mais esquecido e menos valorizado entre os amantes da internet). Além disso, elas impõe a política do medo e do controle... Nada de segurança de verdade, só ilusória.

Avisos pelas ruas de Madri


Mas como ando grávida-sensível, compartilho com os não-leitores deste não-blog um vídeo lindo que encontrei no Facebook dozamigo. Fala sobre as coisas fofas que acontecem todos os dias nas ruas de qualquer cidade e conta um pouco da poesia da vida e da capacidade de sermos humanos, quando achamos que estamos em pleno anonimato.



Sometimes, security cameras catch something totally different




Tá, vai, é uma campanha da Coca-Cola. Mas publicidade também pode - e deve - ser bonitinha.
E danem-se as câmeras. Se elas existem, que seja para ver a nossa cara feliz.