O taxista de Madri e seu presépio de natal

No táxi que me levava para a estação de trem de Atocha, o motorista me contava sobre o enorme 'Belén de Navidad' que ele monta todos os anos na sua casa em Madri.

- Mas o senhor continua usando o boi e a mula que o Papa disse pra tirar?
- Claro, minha filha... eu não sou 'creyente'.
- É só pela tradição então?
- Isso... O Natal é como um jogo, uma época pra gente brincar. Aliás, qualquer pessoa com o mínimo de instrução sabe que Deus não existe! Para mim, nem os padres nem os bispos acreditam em Deus. Eles são muito estudados e formados pra acreditarem nisso! São trabalhadores de uma empresa, simplesmente.
- Será? E por quê o senhor tem essa opinião?
- Simplesmente porque Deus não existe! - e uma encorpada gargalhada encheu o carro.

Ri com ele e lembrei de um texto que li na coluna da Eliane Brum, na Revista Época, que contava como ela tinha sido demonizada pelo taxista paulistano quando disse que era ateia (A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico).

Optei por escutá-lo falar e opinar sobre a importância do comércio natalino para o sistema capitalista no lugar de tentar contar para ele que eu sim acredito em Deus, que sou religiosa, mas que não gosto do Papa - nem do sistema.

Mas não deu tempo... a estação de Atocha era perto demais pra gente ficar amigo. Desci do táxi feliz; contente por saber que tem gente que pensa diferente e tem suficiente bom humor pra fazer a gente rir das divergências, ver que nas diferenças sempre existem similitudes e que delas, junto com as risadas, pode nascer a simpatia - um dos princípios da tolerância.

Fiquei feliz em conhecer o taxista que fala de religião e de educação, que é ateu e que foi gentil e risonho durante toda a viagem. Lembrei dos evangélicos e dos taxistas brasileiros....


*Belén de Navidad =  presépio

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