O Sorvete do ambulante da minha rua

Hoje no trabalho, eu ouvi, depois de muito tempo, aquelas gaitinhas de plástico que fazem: fluuuuulilllflululu! A típica gaitinha de bolso de vendedor de sorvete na rua. Me lembrei da minha infância e dos dias de férias no verão, quando todas as crianças saiam correndo descalças com moedinhas na mão ao escutar a gaita do tiozinho.

Lembrei do Maionese e do irmão dele, que sempre ganhavam um picolé extra, porque compravam uma bacia inteira de sorvete.


Lembrei que o vendedor sorteava um picolé, jogando-o para cima e todo mundo saía correndo para pegá-lo. Dependendo do vizinho que conseguisse, o sorvete era dividido com todo mundo.


 Lembrei dos sabores: maracujá, morango, abacaxi, uva, milho verde e os mais caros: mini-saia e esquimó. Esses a gente só podia comprar às vezes, porque normalmente as moedas não eram suficientes. O mini-saia se chamava assim porque a metade de cima era de creme e a de baixo era de alguma coisa rosa choque. O Esquimó era de alguma coisa branca, com uma casquinha de chocolate por cima. Comprar o Esquimó era quase sinônimo de status na nossa rua e tinha que dar um pedaço pra todo mundo.


Recordei tudo isso porque aqui não tem ambulante, praticamente não existe comércio informal e as crianças não saem na rua correndo descalças. 
Tampouco ficam amigas do vendedor de sorvete, comem sonho do carro do sonho que vai passando para a freguesia, ou curau de milho cozido. Aliás, essas coisas nem existem por aqui.


Aqui é tudo diferente. Tudo é industrial e tudo está controlado. Mesmo que o desemprego esteja chegando aos 25%, o Estado não deixa ninguém abrir um postinho de algodão doce na rua, nem de pipoca ou de cachorro quente. A rua é de todos, mas não é de ninguém. Existe liberdade e a liberdade não existe.

Ninguém aqui quer sair para vender picolé na rua e nenhum pai, em sã consciência, deixaria seu filho tomar um sorvete "de água de esgoto", como diria o "S"Ernesto.


Aqui tudo é melhor, mas mais chato. Tudo está certo e tudo está feito. Aqui nem sequer  sabem do quê eu estou falando, porque muitas vezes não entendem minhas palavras. Aqui eles falam de nostalgia e provavelmente não entendam o que significa 
saudades....

3 comentarios:

  1. rsm disse...:

    Isa,
    Totalmente excelente! Lá na minha rua havia uma vovó que vendia chup-chup. Sabe? No Rio chama sacolé. Pois então. Tinha a vovó do chup-chup. Falando assim, agora, até me soa bastante pervertido. Mas era uma senhora adorável que morava no prédio do lado do nosso. E comprávamos chup-chup feito de suco de pózinho. E, tal qual o seu picolé de esquimó, ela vendia o chup-chup de Guaraná - que nada mais era que Guaraná congelado! Mas era o mais caro e também era sinônimo de estatus comprá-lo. Também na minha rua passava um senhor vendendo sorvete. E os sorvetes eram tão 'cutres' que não tinham nome: "moço, dá uma bola de verde e duas de azul, por favor." :D
    Ai, ai... Como diria o Thaíde: que tempo bom que não volta nunca mais. :)
    Beijo grande, Raul.

  1. Unknown disse...:

    hahaah histórias de bairro, histórias e infância, lembranças.
    Deveríamos abrir um blog sobre isso também ;)

  1. Sperandiocla disse...:

    Nossa isa! Flash back geral. Tinham vezes que eu quase furava os dedos no asfalto quando o moreninho do 'dolé' ja estava longe, de tao rapido que eu tinha que correr p alcança-lo... Gritando! :-) Mas não pense que existe muuuito mais disso por aqui, porque até acho que não! Gereralizando, as crianças mal sabem o que é sair na rua, e tomam mesmo é casquinha do mc donalds. Logo.....os moreninhos do dolé preferem roubar e fumar pedra....ou vice-versa, nao sei!

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