O futebol. Ou melhor: o Real Madrid x Barcelona

* Continuação do post publicado no blog do jornalista Napoleão Almeida
 
Não era a primeira vez que eu ia a um estádio de futebol. Muito pelo contrário, eu cresci indo aos jogos do meu time junto com o meu pai. Sei como nos sentimos no campo... a emoção de gritar Gol, a raiva do juiz, a cumplicidade com o torcedor ao lado.

Lembro-me da preparação: a cervejinha antes, o cigarrinho ou os amendoins durante, e a alegria – ou tristeza – depois. Mas nunca tinha ido ver a “outro” time que não fosse o Coxa.

Em janeiro de 2012 eu fiz isso. Fui a um dos maiores estádios do mundo, ver dois dos maiores clubes da atualidade jogando um clássico histórico: Real Madrid x Barcelona, no Santiago Bernabéu.




10 horas da noite: o horário mais tarde do mundo para se começar um jogo de liga oficial. Às 20 horas já estávamos lá, meus amigos madridistas e eu, para fazer um esquenta sentindo o ambiente. Até aí nada muda: gentarada, ruas fechadas para o trânsito e muita movimentação.




Fomos a uma rua lateral buscar uma cerveja. Justo quando voltávamos, o ônibus do Real Madrid chegava passando no meio da galera. Bengalas vermelhas, bombas e gritos de “Puta Barça” com muita fumaça e nervosismo no ar. Depois meu amigo me confessou que ali era o lugar onde os “ultras” se reuniam. Sim, eles também existem por aqui e são bastante radicais.


Mas a violência terminou por ali.  Entramos no estádio e nos preparamos para o começo do show.
Sim, do show. Quando você vai a um evento desse porte, já sabe o quê te espera. Não é à toa que encontrei entradas de até 1.000€ sendo vendidas pela internet. A minha custou 50€ (preço especial para profissionais do setor) e seguramente ninguém se arrependeu.

É assim: você chega ao estádio e ao entrar já fica impactado: o Santiago Bernabéu suporta quase 86 mil pessoas (!) e é tão grande que chega a dar vertigem. A infra-estrutura é absolutamente incrível, com um gramado brilhante e um sistema de calefação especial, que não nos deixou sentir o frio de 5ºC.

Mas vamos ao que interessa: o futebol
Não adianta... nós já não temos o melhor futebol do mundo. Temos a maior tradição em mundo e podemos ter o melhor campeonato – por ser o mais emocionante. Mas viver uma experiência como um Madrid x Barça faz você perceber que as coisas por aqui estão em um outro nível.
O futebol europeu não se resume a "ópio do povo". O futebol aqui é negócio – maduro e rentável
O evento começa com uma canção de Plácido Domingo – em lugar de um provável Michel Teló no Brasil. A polarização política é clara mesmo em um esporte tido como alienante por definição – o Barcelona é uma equipe Catalã, região tradicionalmente separatista, e o Real Madrid era a equipe de Franco, ditador espanhol. Só com isso, o prato da polêmica já está servido.
Fora de campo, com algumas exceções, vemos uma sociedade civilizada
Não existe fosso em volta do gramado, algo que o Grêmio já está implantando em sua nova arena, e não vi polícia federal, apenas seguranças privados. É claro que a torcida é exigente, mas ninguém joga pilha e nem copo na cabeça dos outros. Aliás, duas filas atrás da minha, estava um casal com a camisa do Barcelona. Nos estádios europeus, apesar de existirem pequenas áreas reservadas para os visitantes, muitos deles se misturam com torcedores da outra equipe.
Dentro de campo, um jogo muito agressivo, de corpo a corpo direto, velocidade e passes objetivos
Cada toque é como um corte preciso de um cirurgião profissional. Por exemplo, só vi o Cristiano Ronaldo errar um único passe durante todo o jogo.

E a partida foi assim: um primeiro tempo do Real Madrid com um gol de Cristiano Ronaldo, uma reação rápida do Barcelona e um segundo tempo de violência brutal vinda dos merengues nervosos. O jogo acabou em 1 x 2 aumentando as críticas ao técnico do Real, que é questionado há algum tempo pelos torcedores e pela imprensa. O português Mourinho prepara uma surpresa diferente para cada jogo e nunca sabemos que time vai entrar em campo. Falta entrosamento.

Uma estratégia contrária ao Barcelona que leva anos jogando o mesmo futebol. Não importa a partida, o adversário ou o lugar, sempre sabemos o que vamos ver: o Messi metendo gols, o Xavi fazendo seus passes milagrosos, Puyol brigando como um Golias na defesa, e o toque de bola mais bonito da atualidade. Talvez você ache que não seja o mais bonito, mas, com certeza é o mais eficiente.

O que o Barcelona faz é o futebol por definição. Todos se apoiam e jogam juntos. O resultado é a vitória frequente. O Barça nos ensina o que é o espírito de equipe. Os Blaugranas nos ensinam o que é o futebol... tanto que o Xavi saiu de campo aplaudido do estádio do seu arqui-rival.

“Que levem Mourinho e nos tragam Deus! Isso é um banho, como Deus manda!” foi o que eu ouvi na arquibancada. É o que os torcedores do Real estão falando do cara que era considerado o melhor treinador do mundo, até conhecer o Barcelona.

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